terça-feira, 21 de setembro de 2010

Paula Campos

 





Tenho medo


Medo do que você ainda é capaz de despertar em mim, mesmo depois de tanto tempo. Medo, pois cada dia que passa percebo que se você estalasse os dedos, eu iria voltar correndo pra você, como um cão corre em direção ao dono, ao menor sinal de afeto.
Me dói ainda quando minha memória olfativa traz de volta teu cheiro, misturado com o cheiro do teu cigarro, impregnado no meu corpo. Me dói lembrar dos cigarros que fumamos deitados lado a lado olhando para o teto, sem palavras, apenas sentindo a presença do outro. Ainda me dói lembrar da vontade que sentia em dizer  ``te amo" e do medo de estragar tudo naquele momento. Ainda me dói pelas vezes em que eu disse que amava e a resposta não foi recíproca.
Tenho medo, pois você é e sempre será a única pessoa pela qual nutri o melhor sentimento. O melhor e o pior. 
O mais puro e verdadeiro. O mais intenso e profano. 
A única pela qual aceitaria qualquer provação. A única pessoa a me fazer chorar como um bebê e a única pela qual eu me sujeitaria a viver tudo novamente.
Odeio a modo como isso me afeta, odeio o modo como não te odeio nenhum pouco. É a única dor que desejaria sentir de volta se fosse para estar contigo novamente. Odeio perceber que todo esse tempo nada mudou, apenas acalmou, aquietou num cantinho do meu coração. Mas está lá, como um vulcão adormecido do qual se percebe apenas uma leve fumacinha. É sinal de que ainda está ali, esperando o momento certo de pular pra fora...
Tenho medo. Medo por você ter a capacidade de me fazer sentir assim, completamente vulnerável. 
Sujeita a abandonar tudo que conquistei e correr de olhos fechados em direção ao abismo que você representa. Só eu sei o quanto preciso me segurar para não largar de uma mão que me segura e pegar na tua. 
Só eu sei o quanto custa querer alçar vôo e ter as asas cortadas. 


Só eu sei...

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